domingo, 23 de dezembro de 2012

Cerveja e cafuné

                          Estava eu chegando na portão de casa, já me sentando nas escadas pra tomar a minha santa e diária cervejinha, quando escuto uma filha conversando com a mãe sobre o laudo que a mesma recebera mais cedo. Está pra morrer,e não conseguia conter o pranto. A filha tentou acalentar a mãe com parcial sucesso, dizendo que ela era uma pessoa maravilhosa e não iria morrer, só iria quando realmente fosse sua hora e que amanhã, na véspera do natal, queria ver a mãe com o sorriso mais lindo desse mundo. A filha deu um beijo na mãe, um até amanhã, desceu as escadarias, passou pelo lance em que eu estava sentado e se foi. A mãe olhou a filha descendo as escadas, deu uns dois suspiros e tornou a entrar na sua casa. E foi isso.
         
                          A vida é uma grande piada sem graça. O ser humano é o único animal, e isso está comprovado cientificamente, que vive tendo a consciência de que morrerá. Algum dia, que parece que nunca chegará. Alguma hora, que parece que nunca nos alcançará. Mas chegará. Proveniente disso, ainda segundo estudos científicos, o ser humano tem um vazio dentro de si que nunca consegue ser preenchido. Algumas pessoas se tornam esportistas mundialmente reconhecidos, outros grandes cientistas e estudiosos, outros só querem curtir a vida, outros só querem usar drogas , outros só querem casar e ter filhos, e outros querem sei lá o que! O fato é que esse vazio nunca se é preenchido e você morre! Que grande e dolorosa piada!

                           Eu resolvi preencher meu vazio, com amores, amigos, família e etc.. Daí resolvi que o meu 'vazio' era profissional, então resolvi ir de frente aos preceitos e preconceitos, abandonar família, amigos, amores em minha terra, para tentar ser ator aqui no Rio de Janeiro. Nessa 'cidade das profissões', eu encontrei uma mulher, meu amor, um amor leve simples e que só me faz bem, e que sem dúvida alguma é a que completará o meu vazio passional pro resto da minha vida. Ela viajou hoje pra cidade natal dela, pra passar as festas com a família, e agora me caiu a ficha que eu estou completamente sozinho nessa cidade. Estou gripado e não tenho minha mãe pra me fazer um cafuné e me dar uma bronca porque tomei banho de chuva. É domingo e eu não tenho pra quem ligar pra tomar uma cerveja em um lugar barato. É natal, e eu passarei esta noite sozinho.

                           Não sei, estou com muita saudade da minha vida alienada, na minha cidadezinha pequena, sem nenhum tipo de questionamento existencial, e cheio de cafunés e cervejas ao meu redor. Acho que é isso, é só saudade.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A Nau dos Insensatos

                Esses últimos tempos aqui no Rio têm sido bons. A cada dia que passa, me sinto cada vez mais a vontade nesta cidade.

                E em particular as últimas duas semanas me fizeram um bem danado. Percebi que quando você passa a tratar bem a cidade, ela lhe retribuirá em algum momento e de alguma forma, porém quanto mais esbravejar , mais males virão. E era assim que estava sendo meu começo por essas bandas.
                Mas venho pegando o jeitinho, aprendi a tratar a cidade de forma fraterna e serena, sorrindo com chuva ou sol, tocando violão no arpoador, e incorporando, quase que naturalmente, o sotaque mais charmoso do país. E nessa pegada, a cidade resolveu me contemplar com uma nova paixão!

                  Quem diria que eu seria recompensado tão rapidamente assim ? Mas felizmente fui! Com uma moça dengosa, dos olhos grandes, sorriso limpo, jeito de menina, postura de mulher. Um encanto! E o que mais quero nesse momento, é viver essa paixãozinha que está aflorando no peito, e parece que durará pra sempre neste momento. E quiça, dure!
                   Sim, já tenho ouvido os milhares de 'sensatos dos relacionamentos' falando que isso é coisa passageira, que o encanto acaba, e que, se as coisas realmente se firmarem, ficarão 'sóbrias'...
                 
                   Ta aí uma sobriedade que vivi nos meus últimos romances, e que me chateia muito. Por mim passaria o resto da vida envolvido na embriaguez da paixão! Quão gostosa é a aflição de saber se ela vai te atender ou não, se ela leu sua mensagem, se ela gosta de você...
                   Se ela achou o que você disse inteligente, se realmente gostou da sua piada ou riu por estar muito encantada por você também, e se ela sente borboletas no estômago, assim como eu ao beijá-la.

                   E por que não sonhar que nesta terra de sonhos inimagináveis antes, eu possa ter meu romance shakespeariano ? Se será com essa moça ? Não sei bem. Espero que sim, temo que não. Tudo correrá da forma mais adequada, a cidade estará de olho, cuidando para que eu viva só de coisas e sentimentos bons..

                                           
                                                          Eita Cidade Maravilhosa, hein ?!


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

'Topadas' da vida

          Depois dos meus primeiros vinte dias aqui no Rio de Janeiro, estou começando a pegar o jeito da cidade, a fazer parte da frenética e alucinante rotina da mesma. Digo isso porque em um mesmo dia, dei duas 'topadas' : uma no dedo mindinho e outra no dedão! Quer prova mais evidente que você já faz parte da cidade do que duas topadas ? Acabou o período de 'boas-vindas'. As cervejas já fazem parte do meu cotidiano. Uma pra dormir, outra pra acordar. Imprescindivelmente. Nossa, e como as pessoas bebem 'Antarctica' por aqui! E como ouvem samba também. Comem demais, falam demais. Silenciam demais.
 Vira e mexe sinto falta de um Pituzinho ao som de um bom forró da minha terra, e conversas inúteis e tão úteis com meu amigos.
         
            Mas estou bem. Nunca vi tantas peças de teatro em toda a minha vida, cada uma melhor, ou pior do que a outra. A Lagoa Rodrigo de Freitas e as belas praias cariocas, desde a marina da Glória até a praia da Barra, passam uma paz de espírito necessária pra tocar a vida por aqui. O açaí aqui é bem barato e bem ruim também. E cada tarefa doméstica pra mim, é uma grande aventura. Nas ruas vejo estranhos, e até mesmo amigos, serem assaltados todos os dias. Meio assustador pra um moleque que até então morava numa capitalzinha pacata e serena como Aracaju. Mas parece mesmo que os votos positivos e a minha Turmalina negra, que anda sempre comigo no pescoço, criaram uma espécie de mantra que me protege em vezes que eu mesmo esqueço de fazê-lo.

           Ah, e minhas queridas noites na Lapa! A cada final de semana um aprendizado novo : seja em relação às gringas, ou às cariocas mesmo. Inclusive, malditas sejam as cariocas! Te dão a maior condição, mas não te dão um beijo. São ariscas, perigosas e traiçoeiras! E mesmo com todo esse perigo, já consegui catar três! Cada uma com uma história e trejeitos mais malucos que a outra. Infelizmente, ou felizmente, foram só beijos por enquanto, mas em algum momento capturarei alguma e desbravarei totalmente o mundinho dela! O meu 'irmão de quarto' catou uma gringa colombiana que mais parece ser do Mato-Grosso. Excentricidades que só a Lapa te proporciona...

           Na terra em que os poemas e as frases de efeitos de filmes parecem fazer todo o sentido, vou vivendo, lendo, escrevendo e me apaixonando.
 
            Agora com toda a licença deste mundo, estou indo me encantar cada vez mais...

         

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Na Terra dos Sonhos Possíveis

       Depois de mais uma 'decepção amorosa', resolvi antecipar minha vinda para o Rio de Janeiro. Vim com    um desejo de renovação, com a incerteza de um sonho no bolso, com esperança de garoto no peito, desejos positivos me cercando, de mala e cuia e aqui estou! E confesso que, mesmo longe dos meus pais e grandes amigos que deixei na minha terra, nunca estive tão feliz!
     
        E quis o destino que eu viesse morar no local mais pitoresco dessa cidade : Lapa! O local onde os opostos convivem de uma maneira harmônica e inacreditável. Onde as pessoas parecem tão sem emoções e robotizadas na correria do dia-a-dia, e ao mesmo tempo tão cheia de paixões nas noites boêmias. Onde 'patricinhas' da zona sul carioca são simpaticíssimas e alguns hippies nem te cumprimentam. Onde malucos desvairados tocam violão e sapateiam no meio da rua, na esperança de terem sua arte reconhecida e de fazer uma 'caixinha' também. Onde encontro micro-paixões de dois em dois minutos a cada mulher linda que passa, e sofro uma decepção a cada olhar fixo meu, que elas não retribuem. Onde gringas que parecem ter vindo das comédias românticas americanas que passam na Sessão da tarde, e surgem como uma praga, ficam todas desengonçadas ao tentar incorporar o molejo do samba carioca em seus corpos brancos como a neve. Onde acordo ouvindo um samba, e vendo pessoas em um pé-sujo perto do meu apê tomando uma cervejinha em plena segunda-feira.

         Logo que cheguei, um 'quase-tio' meu, o seu Moisés, me disse que aqui no Rio, nenhum dia é igual ao outro, hoje você pode ir dormir em uma depressão profunda, mas repentinamente amanhã você acordará como a pessoa mais feliz do mundo! E que mesmo a rotina mais similar e monótona do mundo, sucumbe à magia desta cidade. E é isso que sinto!
       
         A cidade se move, as coisas acontecem aqui! Mal cheguei, sem conhecer nem um mortal desta cidade, já ganhei um irmão, meu companheiro de quarto, que desfruta de idéias e sonhos muito semelhantes aos meus! Estou com alma nesta cidade, com calma, me deliciando em cada detalhe, em cada pé-sujo...

          E nesse pouco tempo que estou aqui, cheguei à uma conclusão: Na terra dos sonhos possíveis é terminantemente proibido não sonhar...

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Lugar Estranho.

Me diz do que adianta tanto sentimento se for pra esconder? Me diz pra que
serve tanto sorriso pra depois só fazer sofrer? Me diz o nome do que é isso
porque eu já não sei mais onde estou! Em quem eu acredito? Quem aqui é de
verdade? Quantos machucados você carrega? Eu? Já perdi as contas. É triste
aqui. Muito quente. Se estivessem aqui, os gélidos iriam queimar seus
corações gelados, e eu só alastro o fogo porque sou pólvora, vento, lenha. Não
vejo problema em ter sentimentos quentes. Vejo problema em palavras de
gelo, atitudes de ar, que mudam a direção constantemente, e sempre
passam. Tá muito triste aqui, Cá. Ninguém sente nada, ninguém diz nada. São
todos surdos e mudos no amor. Por favor, me tira daqui! Tira depressa! Não quero
ser um deles, por favor. Por mais que me doa, por mais triste que seja, quero
continuar carregando no peito a maior causa humana, por mais que machuque,
arda, despedace, quero ir embora daqui. Quero gritar ao mundo o que penso,
o que sinto, o que eu quero. Não vai fazer a mínima diferença para esses
surdos-mudos, mas em algum lugar do mundo (ou fora dele), algum coração
defeituoso vai me ouvir. Cá, me avisa a hora de voltar. Só não demora
muito... Porque eu quero sair

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Incompleto

Ultimamente tenho sentido uma incompletude estranha. Tenho tentado achar o que falta para preencher essa lacuna em minha vida. Mas talvez não me falte nada, e se não me falta nada e me sinto incompleto, é porque talvez tudo esteja em falta.
Amores estão em falta, alegrias estão em falta, sentimentos, emoções, aventuras, medos.. Definitivamente tudo está em falta e tornado minha vida sem tempero, sem cor, sem graça.
Talvez seja só um pensamento, um momento, mas tenho a impressão que não. Que realmente estou sufocado, precisando respirar vida.. E esse medo em admitir que existe algo errado, simplesmente me faz ficar parado, me faz ficar conformado com o que não me conforma, apenas pelo absurdo medo de tentar inovar e renovar a vida sem tempero que ando vivendo por ai, por cá. Tenho tentado arduamente batalhar contra este medo, mas tenho sido detido pelos medos dos outros que juntaram-se ao meu, e me deixam anestesiado, por olhar para tantos conformistas que já se renderam aos seus medos..
Continuo esperando por alguém que não sinta medos pra me ajudar a abandonar os meus. Mas acho também que existem outras pessoas esperando por mim contra seus medos. E se perpetua por um ciclo infinito de esperas que cedo ou tarde chegarão.



Enquanto isso, tento temperar a minha vida...