quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Tocar

            No meio de um dia nublado e cinza, veio a mim aquele toque e cheiro de outrora. Forte e arrebatador como sempre. Todas as dúvidas tinham acabado, toda a angústia tinha cessado, a maré abaixara. É o mesmo sorriso, ainda que mudado com o tempo e com as tristezas que o tempo lhe trás, é o mesmo, inconfundível, inatingível.
             O coração acelerou, a perna tremeu, a mão suou, tudo como tem que ser ou como deveria ser. E naquele instante, naquele mísero fragmento do dia, eu fui tudo, fui nada, fui alma , amor e universo. Ganhei dois olhos encantadores, era só o que eu queria, os olhos, a alma.

              É quente, é enlouquecedor, e é sutil, a maciez de cada palavra jogada fora já nitidamente constrangida ao sair. O mundo nos oferece mais, devemos viver tudo. Sentir os toques, os cheiros, os abraços, os beijos, apenas o essencial.
               Cabeça a mil, pensamentos tão soltos como um dente-de-leão num tornado. O sinal de alerta foi ligado, lágrimas e sorrisos virão.


               Tocar.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Cabelos

              Os cabelos são uma parte peculiar da mulher, falam por si só, tem encanto,magia, ideias. É um momento único arrebatar um olhar envoltos por cabelos meio que jogados no rosto, unindo-se à um sorriso de canto de boca, numa desarmonia, totalmente harmonizada. Longos, cabelos longos, tenho medo dos cabelos curtos, eles deixam as meninas mais mulheres, mais fortes e poderosas, menos mimosas, é medonho. Gosto da confusão de pensamentos e dos gritos esvoaçantes grandes, da inocência grande, da embriaguez da naturalidade..

               Nossos tempos são cruéis com os cabelos originais, obrigam-os a mudar constantemente, e de repente aquela menina vira mulher, vira outra, muda-se, transforma-se, enlouquece, aparece, viaja, volta, e nunca mais é a mesma. Tenho pavor da poda. Não sei.

                Apenas relatos de um viciado em cabelos..

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Da minha vida

             Se sou 70% água, então corro o risco de me afogar em mim mesmo ? Tenho pensado muito sobre os rumos que minha vida tem tomado e continua a tomar esses tempos, especificamente esse último ano. Eu saí de casa com 18 anos, vim pra outro estado, outra cidade, outra vida. Mas parece que mesmo que de maneira inconsciente eu me ponho cabrestos que já me sufocam apesar de tão pouco tempo fora de casa. Tenho medo de querer manter tudo sob o meu controle e deixar tudo quadrado, sem graça, pequeno, não sei..

             Tenho pensado nas pessoas que fiz algum mal, pessoas que magoei, mesmo não querendo fazê-lo, tem surgido uma vontade bisonha de querer emoldar meu passado, corrigir erros, pra talvez não sei, ser uma pessoa mais feliz hoje. Diminuir toda essa angústia que vai sempre se renovando ciclo após ciclo. Queria ter tirado tanto peso das coisas passadas, ter tido a percepção que tudo era leve, e ter também me projetado de maneira mais leve para as vivências, os encontros , os amores, as fotos, o tempo.

               É triste lembrar das pessoas que te fizeram mal na sua história, mas é pior quando começa-se a ter consciência de que se é vilão e que fez mal na história de outras pessoas. Tenho dúvidas, arrependimentos e medo. Não quero me afogar nessa rotina triste que tenho estado ultimamento, luto pra fugir da realidade, pra viver em sonhos, nos meus, e se não for dessa forma estarei preso novamente naquilo que demorei tanto pra começar a degustar. Novamente a ansiedade me laçou e me fez bater de cara no muro, preciso acordar, preciso muito.


                Preciso ir no primeiro bar da esquina, tomar um porre de whisky, chorar, lembrar do passado, escutar algumas músicas, e embalar no meu presente-futuro sem amarras, ou planejamentos, preciso viver.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Momentos

                   Parece que se passaram anos. O tempo tem passado mais rápido do que deveria. As coisas têm mudado um bocado desde a última vez, mas na verdade só se passaram alguns meses. Longos meses, e enquanto todos continuam trancados nos seus presentes de hoje, eu vejo nitidamente essa passagem mórbida do tempo, afinal sempre me espanta como tudo tomou um rumo totalmente adverso do que eu previa. 
                     Talvez fosse pretensão da minha parte querer ser o senhor do tempo aos 15 anos, mas eu me sinto mal toda vez que olho ao redor, e me dou conto de que nada que eu previa, de fato, se concretizou. Nenhum dos destinos que eu escolhi pra mim, me escolheu. Nenhuma realidade paralela se sucedeu.
                      
                     Eu sei, que estes dias estou voltando ao passado, sinto o gosto do passado, sinto que tornei a ruminar pensamentos antigos e remoer minha alma por coisas que já foram, mas parecem-me que não, não sei. Sei que no meio da noite passada eu olhei e recebi um olhar. O mesmo olhar de anos atrás, o mesmo olhar cheio de perguntas e que nunca me deu nenhuma resposta sobre o que seria tudo aquilo. Só me encheu de dúvidas e de vida. Foi tudo aquilo realmente. Tem cheiro de memória e gosto de mágoa.

                  Filmes bonitos continuam me angustiando como não deveriam mais fazer há muito tempo.   Existe um risco, uma rachadura, nessa bonita estória que é incurável, irreparável, e que estará sempre ali, a sombrear tudo que foi e que é. Eu só achava que Tristão e Isolda era o meu conto predileto, e que hoje em dia seria tudo mais claro e farto, repleto de toda a satisfação, com a licença do Lulu, e que fugiria de toda definição que pudesse oprimir aquilo que era tão maior.

                        Bobagens, momentos.