sexta-feira, 24 de junho de 2011

Vazio

Existe uma discrepância na forma como penso e percebo. Existe um vazio no que eu sinto. Não, na verdade, não existe um vazio no que eu sinto. Existe o vazio do que eu não sinto. Do que eu não consigo expressar em palavras. O vazio do que eu queria sentir, mas não tenho como. Não tenho o porquê. E aí fica tudo guardado. Em desuso. Incomodando. Machucando.
Às vezes fica fácil esquecer. Do vazio, quero dizer. Você não pára de viver por causa dele. Você ainda sai. Ri. Conversa. As vezes, até demais. Ri demais, bebe demais, sai demais. Porque o vazio tá lá. E tem sempre aquele momento em que a tua guarda baixa, e o vazio bate. Pesa. E você deseja sumir e reaparecer na sua cama. longe de tudo. De todos. Mas isso nem sempre acontece. As vezes o vazio fica lá, dormindo, por um tempão. Você acha que ele sumiu. Você acha que finalmente você está feliz com o que você tem. E tudo parece bem. E está bem. Mas o vazio volta. Sutilmente. Ou não. Pode ser uma fisgada no estômago. Pode ser uma lágrima no canto do olho. Pode ser um nó na garganta. Um pesar de pálpebras. Ou pode ser uma avalanche avassaladora de emoções. E o vazio. Novamente ele está lá. Novamente você lembra o que é conviver com ele.
Diariamente. Constantemente.
Existe uma falta de sentido nos nossos desejos.
Existe uma falta. E só.

domingo, 19 de junho de 2011

Quase

Nunca pensei no nascer do sol. Em ficar sentado admirando o momento em que ele surge. Nunca pensei em muitas coisas, na verdade.
E a verdade, é que eu quase não penso mais em você. Quase.
Eu só penso no quase.
No dia em que eu quase disse não.
O dia em que eu quase disse sim.
O dia em que eu podia ter saído, mas fiquei em casa.
O dia em que eu podia ter escolhido o caminho mais longo, e cortei pelo atalho.
O dia em que eu desisti de tudo.
O dia em que eu decidi que não valia a pena.
Que ia passar.
Que tinha que passar.
Não é que me atormente.
Eu sei que fiz o que pude com o que eu não podia saber.
Mas é o quase que me mata um pouco
Que leva um pedacinho
Um quase pedacinho
Pra longe
Porque foi quase
Por um triz
Você não me fez feliz
E vice-versa

sábado, 18 de junho de 2011

Real e Eterno

Não quero falar sobre o que já foi. Nem fazer um balanço sobre tudo o que aconteceu. Foi ruim, e foi bom. Mais bom do que ruim, no geral. E não quero fazer longas digressões sobre como "não foi bem assim". Foi o que foi, e o que significou no momento, embora agora seja apenas uma lembrança.

Incomodou. Doeu. Mas passou.

Mas não desejo suavizar, não quero que seja "e quando acaba a gente pensa que ele nunca existiu". Não há o que dizer. Não há o que fazer. Não há mais nada pra sentir. Mas eu não quero amenizar o que foi, pra mim, avassalador. Pois só o ser humano possui essa capacidade de deturpar emoções e situações já vividas. E pode tirar algo disso, ou pode não tirar nada.

A maioria não tira nada.

Ficar por aí dizendo que, no fim das contas, perdeu seu tempo com algo que não valia a pena. Não vou dizer que não valeu a pena.

Foi real pra mim. Mas acabou. E ponto.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O bastante

Conheci alguém novo hoje. Sorriso bonito, olhos sinceros. Não usava estúpidas sandálias. Ela podia me amar. Eu sei que podia. Mas eu não sei mais amar. Eu nunca soube. Eu só soube amar você.

Eu era o menino que acreditava que amar era um talento. Um talento adquirido. Amar era abstrair. E sempre me julguei racional demais para abstair. Então não amava. E não vou te dizer o quanto foi que eu amei você. Se o que vivemos não foi o bastante para mostrar o que foi tudo pra mim, então realmente não foi o bastante. Nunca é o bastante, não é?

O fato de ela poder me amar não é o bastante para que eu a ame. O fato de eu te amar não foi o bastante para que você ficasse. E eu me pergunto, meu amor vai ser o bastante pra ela? O amor dela vai ser o bastante para mim?

Eu só sei amar bastante. Mas nunca o bastante. Nunca o bastante.

E é por isso que escrevo para fantasmas. Não escrevo pra você. Escrevo para quem eu era pra você. Por você. Eu finalmente aprendi a chorar. Não por você, mas pela tentativa.

Não sei se posso continuar a arriscar. Mas também não posso ficar parado, posso?

Odeio você por ter roubado de mim mais do que os dias, as horas. Mais do que o tempo.

O mundo, como eu conhecia.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Somente Só

Na companhia de sons emudecidos comunico-me comigo mesmo, respeitando o silêncio imposto pelo ser oposto que não se faz presente. Caminhando em forma de nó vou sonhando só e evoluindo de ré em meu mundo sem fé. Ao caminhar ouço somente os passos de um andar mais do que familiar. Formo comigo mesmo um casal sem par e um relacionamento egocêntrico mais do que peculiar. Amo-me como jamais amaria outro ser. Sonho em ser o que sou e não com o que nunca poderia ser ou ter. Abandono-me Quando esqueço de mim e penso em ser o que não preciso ser. Isso ocorre em momentos em que me escapa a lucidez. Pura insensatez! Não sei pra quê. Não sei por que as pessoas choram por pessoas. Se a pessoa por que choras não passa de um personagem sem bagagem, sem alma e sem coragem. Prossigo na estrada singular, sempre me escondendo das companhias que insistem em me encontrar.